Tiago Taron
n. Lx, 01/01/1965
artífice da oficina da Alminha na Rua Direita de Caminha;
www.alminha.pt; FB e Instagram: Tiago Taron
Exposições Individuais
2022 - No Canto do Lobo - Restaurante / Bar - Canto do Lobo, Caminha
2021 - Fingidos do Mar - Galeria Bar After-Eight, Caminha
2020 - Contra a Banda e Contra o Bando - Galeria Bar After-Eight
2019 - Caminha, mon amour - Galeria Bar After-Eight , Caminha
2019 – Le Vent du Nord – Atelier de Jacques Van Roy – Warneton, Lille – França)
2018 – Mil Anos de Solidão – Casa Padre Cruz (Futuro Hotel do grupo Feels Like Home)
2017 – C’Alminha no After Eight (Bar After Eight, Caminha)
2015 – “A conta que Deus Fez” (c/ Alfredo Luz e Jorge Pé Curto – Casino do Estoril)
2011 a 2014: Pintura de mural (Bar Majong, Bairro Alto, Lisboa)
2013/03 - “It’s all Connected” - Jardim das Amoreiras, Lisboa;
2012/03 - “Não Tenhas Medo eu Domestico os Monstros” (Galeria Pente 10 / Lisboa);
2011 - “Adeus Jardim” (Galeria Bernardo Marques / Lisboa);
2012/05 - “Workinks” (Galeria Work.Ink - Cidadela de Cascais)
2010 - “Graffiti” (Galeria Bernardo Marques / Lisboa)
2010 - “A Magia da Imaginação” (Lx Factory/Art Hoebler / Lisboa)
2009 - “Alba atroz” (Galeria Bernardo Marques / Lisboa);
2008 - “Visão Nocturna” (Galeria Vértice/Hotel Villa Itália / Cascais)
2007 - “Escrita em dia” (Coisas de Baco/Estremoz)
Participações
2012 – Projecto Graffiti com Júlio Pereira e Tiago Torres da Silva (Ilustração das 12 letras e músicas do CD Graffiti)
2013 - Residência Artística 17ª Bienal de Cerveira (“Nem cervo nem gamo, nem servo nem amo, nem sirvo nem gamo”);
2013 - “A Luz da Nossa Identidade” (Colectiva - Palácio da Independência, Lx.);
2014 - “70 Artistas, 70 cavaquinhos” - Mosteiro dos Jerónimos Lx;
2015 - Bienal “Fabriano Inart” / Fabriano Itália;
2015 – 1ª Edição dos Jartdim das Artes – Jardim das Amoreiras, Lisboa
2015/2016 - Improfado, Teatro de Improviso (Desenho, música e teatro de Improviso - Teatro Meridional / Museu do Fado / Centro Cultural de Belém)
2015 - 18ª Bienal de Cerveira
2017 – 19º Bienal de Cerveira
2018 – Participação no Mercado de Arte de Sabaris (Bayona)
2018 – Intervenção em “Arte no Queimado” – Vila Nova de Cerveira
2018 – 20º Bienal de Vila Nova de Cerveira
2021 - 100x100 - Exposição Colectiva de Pintura, Casa Da Cultura Jaime Lobo e Silva - Ericeira
Sobre
Spending serious time with Tiago Taron’s work yields two main analyses. The first is that Taron’s art, topographical and abstract, never sits in one camp entirely. It’s neither wholly abstract nor wholly representative, giving it a kind of shimmery, fluid quality that can either fascinate and frustrate you depending on your approach.
The second point, which is actually pretty disappointing, is that there are virtually no effective tools online for translating Portuguese.
As it turns out, Taron is a prolific writer over at his other blog. Not just about his work, but about art generally, and often the murky, muddled milieu of life, memory, feeling, and vision that fuels creative work. To our many readers who’re fluent in Portuguese, I greatly recommend some time with Taron’s writing.
Fortunately, Taron’s art is in no way dependent on exegesis for its effects. As noted, there’s a distinct sense of cartography or topography in most pieces—scenes feeling “plotted” in the physical sense. But color, and especially Taron’s skill with watercolor, warp and mutate the seemingly static shapes, blending in errant and eruptive features like eyes, towers, and other traces of “normal” reality.
The connection between Taron’s writing and art, then, is clearly the power of narrative. Which is an odd claim for a (mostly) non-representative art: there’s no single tale being told in any piece, and certainly Taron’s winding hikes through thought exceed serving as mere supplements to his painting. But both exercises validate and elevate the intrinsic story-ness of material, the undecided and unending pathways and growth-ways of our spatial and psychic surroundings. It’s art and storytelling that sinks its tendrils into the deep, quantum unpredictability that rests at the rarest levels of existence.
(Fred Spears (Pixel Union Blog - in http://blog.pixelunion.net)
“É a hora de ler as histórias desenhadas pela mão aventurosa do Tiago. Se as foi buscar onde lhas contaram, se resultam dos incontornáveis acasos e encontros da vida, se foram elas que vieram apresentar-se e pediram que o Tiago as fixasse em tinta sobre papel, para que não voassem levadas pelo vento, perdidas para sempre da memória, isso não posso saber nem, na verdade, me interessa, desde que os não os empacote e reenvie pelo correio, que já não é o correio que batia à porta e tinha uma voz e um cansaço que trazia nos pés.
Não haverá mais cartas de amor. Não haverá mais quem beije com lábios ternos a pele de um envelope de papel. Não haverá quem não durma esperando o toque da campainha que sempre toca pela manhã. Não haverá quem, com cuidado e ternura, seque com o ar quente soprado por um secador de cabelos, uma carta que a chuva molhou, por ignorar que a molhava. O correio batia à porta, agora aterra silenciosamente na caixa das mensagens, escondendo grande parte do que importa: a caligrafia com que se escreve o que vai na alma, o cheiro transportado no envelope e se liberta ao abrir-se. O toque do papel, a pele do papel, a pele da amada amante de mistura com a minha.
O que os desenhos que a mão de Tiago desenha são monstros. Os monstros mostram o que outros escondem: são únicos, por isso incomparáveis. Os monstros rompem a conformidade do mundo, põe em causa a pretensão totalitária da razão escapando à classificação que indicaria o lugar onde pertencem. Não conhecem lugar onde se sentir em casa, menos ainda uma pátria: são vagabundos que desafiam as normas da sociedade, onde não se integram, porque a desprezam e, com justiça, dela devem ser repelidos, uma ameaça à preservação dos costumes. Os monstros vêm lembrar, sem etiqueta ou diplomacia, que o surpreendente existe com uma intensidade de ser que a normalidade nega, que o imprevisível é mais poderoso do que o que já se está à espera, reafirmando em voz alta e serena a irredutível diferença, a possibilidade do impossível.
Os monstros não nascem no mundo, vêm de visita assustar os que estão satisfeitos com a vida que levam e não pedem o que esta não lhes dá, os que não precisam de justificar a sua existência, por estar desde sempre justificada. Os monstros passam pelo mundo numa fúria de sexo exibindo o império do caos, fracturam a hegemonia das leis universo desobedecendo-lhes, trazem do fundo dos poços fundos, que a superfície da terra encobre, o que se não deixa compreender, desafiando a lógica, sem se deixar reduzir ao familiar, armando escândalo ao pôr em causa a verdade do mundo.
Os monstros vivem de histórias e de mais nada. O que a mão de Tiago desenha são histórias de monstros, que pedem para ser lidas, com a atenção de não as confundir com as histórias dos homens. As histórias que os monstros contam através da mão de Tiago não se preocupam em ser fieis reprodutoras de histórias reais, histórias do mundo no mundo, em apresentar a verdade dos factos. Os monstros não se interessam por factos, a sua real irrealidade prova que o mundo é apenas mundo, que a verdade do mundo não se encontra no mundo, de nada valendo narrar o que aconteceu, porque o que aconteceu deixou de acontecer tendo acontecido.
Toda a arte é monstruosa, abalando as convenções que permitem a vida quotidiana, fazendo pouco do poder no mundo que é sempre uma forma de escravidão, desafia a razão a dar conta de si, resistindo a ser integrada no mundo como coisa do mundo, aparecendo no mundo para provar que o mundo é apenas mundo, não se bastando a si próprio, exigindo mais, o mais de que se alimentam as almas sensíveis e inteligentes e perdidas, sem o qual a vida não é possível.”
(Pedro Paixão (in “A mão que desenha”)
La clairvoyance et le pressentiment
Peinture de l’oracle, esquisse de la présomption du divin, légende en construction déposée avec pudeur en filigrane
sur notre regard, quelqu’un, quelque part, apparaît dans la peinture de Tiago Taron. Oui, la question du quelqu’un et
du quelque part se pose au premier regard comme le mouvement d’une intuition, d’une fulgurance qui se creusent en profondeur, un dessin, une toile après l’autre.
Danse de l’anima ? De la sainte ou de la sacrifiée ?
Qui s’avance, qui traverse la toile, d’où vient la présence et
comment se manifeste-t-elle ?
Chaque image reconstruisant, ligne après ligne, plan après plan, le territoire d’une représentation intime, comme si le geste de peindre arrivait à surprendre l’onirisme d’une image mentale dans son alchimie, son mouvement pur, chaque trait du dessin enracine la maîtrise d’une tension entre conscient et inconscient, abstraction et figuration. Comme un pressentiment. Une clairvoyance.
Le réel est piqué d’irréel, le visible, d’invisible. C’est ce qui saisit le spectateur au premier regard dans son urgence et son immédiateté : devenir témoin à son tour d’une apparition. Mettre en forme cette pluie fine de la mémoire dans les strates de notre sensorialité, nos sens construisant un à un l’oubli puis l’émergence de ce qui deviendra peu à peu la légende désenfouie de nos souvenirs, voici peut-être l’enjeu quasi silencieux voire initiatique de ce travail.
La mémoire est-elle palimpseste, papier déchiré de la conscience, lambeau de notre vécu, de notre corps, semé quelque part dans la jungle grouillante de l'inconscient ? Oublier est nécessaire à notre survie mais nous ampute aussi d’une partie de la douleur ou de la joie. Quelque chose nous manque dont nous ne connaissons pas la nature réelle. De rares artistes explorent cette archéologie du sensible par une recherche formelle d’images capable de la sonder.
Écrire ou peindre sont des tentatives pour recoller les figures de cette sensorialité cachée, restaurer à la surface de l'ici les pièces du puzzle, les « présences-images », ce que Jung nomme les archétypes, qui nous ont bouleversés, façonnés, brisés parfois.
Une légende s'écrit dans le tumulte de nos rêves, de notre oubli. Libre à chacun d'en faire une réalité. Un regard. Une présence capable de nous unifier. Un déni. Un mensonge instauré comme religion.
Nous lisons alors certaines oeuvres comme si nous lisions dans les lignes de la main. Le passé, le présent et ce qui nous met en mouvement s'éclaire.
Territoire, labyrinthe, iconographie invoquant le profane avant qu’il trace le cercle du sacré, paysage architecturé du mental conçu par l’homme comme le cadastre de son savoir, la peinture de Tiago Taron vivifie en nous quelque chose de mystérieux et de familier parce qu’elle interpelle chacun dans cette part sensible du rêve avant qu’il affleure à notre réalité comme tout ce qui structure notre pensée et nos utopies.
Enfants, nous étions visionnaires. Adulte, la puissance de la raison nous a castrés de l’irrationnel de nos visions et de nos intuitions. Le rêve à l’état pur est le germe du réel. C’est le défi ce que l’on retrouve dans la peinture de Tiago Taron. Dans ce monde en crise de Spiritualité et d’Humanisme, ce combat entre le capital et l’être, le profit et la présence, à travers les voiles en lavis bleutés ou transparents d’une vision du monde qui nous hypnotise, nous capte, nous rafraîchit comme la surface d’un lac, un fragment de notre âme cherche un espace où s’éprouver, s’ébrouer.
Un peu de vastitude quadrillé par notre conscience se souvient d’un néant immense comme Dieu. Un peu de notre mémoire silencieuse, d’avant le verbe.
(Dominique Sampiero – texto de apresentação da exposição “Le Vent du Nord” em Warneton, Lille França, Outubro 2019, Atelier de Jacques Van Roy)
O desenho da Abissínia Uma certa solidão O Impacto Emocional
em quem chega ardendo: Stop!, diz. Algo de apaziguador, sereninho, tranquilizador mas não passivo, mexe sem mexer, como que dotado da indizível sabedoria de quem PARTIU ("une saison en enfer") e voltou ("hey, man!) tendo descoberto que é no SILÊNCIO que está a (única) SAÍDA
Uma arte do SILÊNCIO, diria. Antena 2 ao fundo.
A LUZ. A MANHÃ a CLARIDADE de quem viu a noite
As conchinhas da praia madrugadora da Sophia.
As meigas galegas algures nos traços femininos das figuras.
O equilíbrio. Os olhos lavados das crianças. Os azúis da infância maturada, sem a corda pretensiosa da teia metafórica dos outros.
Apetece lavar a cara todas as manhãs com esses quadros.
(A. I., Junho / 2022)